segunda-feira, 27 de junho de 2011

Serras da Desordem


Tive o prazer de ver esse grande filme em película - o que por si só não é tão fantástico, já que é um produto de 2006, mas que de acordo com o próprio Tonacci não recebeu uma boa distribuição brasil à fora. "Houve inclusive um apelo à pirataria virtual" (risos da platéia). Ao fim da sessão, aconteceu um debate com o diretor, que se emocionava a cada vez que contava um pouco sobre o histórico da produção e etc.

O projeto havia surgido a partir de uma ideia antiga, desenvolvida apenas em um roteiro de 2001, que participou de um festival e ganhou apoio financeiro do governo para que fosse filmado. Ainda assim, enfrentou algumas dificuldades financeiras e as converteu em matéria para um documentário independente, de caráter lírico e reflexivo. Serras da Desordem é antes de tudo uma tentativa a recorrer a um cinema menos comercial; algo muito incomum no circuito brasileiro hoje. Porém, essa ideia de diferencial não fica tão somente nisso. O filme preza por uma narração trabalhada, cinematograficamente alternada e intertextual.


A história é uma reconstituição da trajetória verídica de Carapiru - índio que saiu do norte do Brasil e foi parar em Brasília, onde se tornou um símbolo -, revivida pelos mesmos seres e pessoas. (Tonacci comenta que Carapiru foi muito atencioso com seu pedido para trabalhar no filme, dizendo que contanto fosse trazido de volta, não haveria problema algum).

Daí o limite de documentário e ficção por si só já se desmancha. Tonacci não acredita nessa diferença, e Serras da Desordem é um perfeito exemplo: ao lidar com essa reconstituição de fatos com integrantes reais e modelos (dá-lhe bresson), imagens de arquivo e linguagem documental, não existe mais parâmetro que cubra a separação dos dois gêneros - aqui eles se unem e trabalham juntos para criar uma narrativa, seja ela desordenada como um todo ou minuciosamente trabalhada a cada plano - a sequencia final traduz bem essa ideia, ao mostrar a equipe direcionando Carapiru e, portanto, realizando em seu suposto documentário uma mise-en-scène.

Escolha que, por sua vez, pode tornar o filme algo ainda mais pessoal que o comum. Chega um certo momento que você se aproxima tanto com tudo aquilo, com aquele falso (ou verdadeiro?) drama de Carapiru, que mesmo as sequencias mais longas e de cerco familiar acabam te acolhendo pra dentro daquela suposta ficção. Aqui, os símbolos se tornam personagens - imagens são justapostas às metáforas sobre a guerra do Iraque, capitalismo, revolução industrial e degradação; a ponto da própria sensação de humanidade proveniente da personagem principal, sua questão igualitária e emocional, se decair sobre nós como um banho de água fria.


Para terem uma noção do teor pessoal que a obra carrega, basta a emoção apresentada por Tonacci durante o debate. O filme foi feito em um momento complicado de sua vida, no qual ele se separa de sua esposa e de seus filhos, e acaba por não tendo um rumo certo. E é exatamente essa a base de Carapiru - um ser humano guiado pelo destino, abalado e confuso (e mesmo assim feliz). Ismail disse que Carapiru é o Pereio de Bang Bang: e com razão, são duas personagens que transitam pelo mundo carregados pelas costas por essa onda de mãos erguidas, chamada por aqui de acaso.

E os olhares. Uma mulher na platéia perguntou sobre a certa ausência de legendas para os diálogos indígenas tupi-guaranis. Tonacci apenas respondeu que aquilo não era necessário. Carapiru se comunica pelos olhos, pela simplicidade dos atos, pelos pequenos movimentos que podem revelar uma infinidade de sentimentos. Durante todo o filme, só vemos ele dizer "É bom", se referindo à comida que lhe era servida. De resto, com simples gestos, revela por vezes insegurança, felicidade, preocupação e outras exímias sensações.

É um filme pessoal, de brasileiros para brasileiros.

terça-feira, 21 de junho de 2011

#

Alone. Life Wastes Andy Hard (Martin Arnold, 1988)
Could Andy have become some kind of Dracula, sucking blood from his mother’s neck? (Jonathan Rosenbaum).

Judex (Geoges Franju, 1963)
de certa forma a revisão foi mais negativa que positiva. De obra-prima caiu para o status de belo filme, inventivo e divertido bem cima da medida do possível. É meio inconstante, costuma não se decidir bem entre o desenvolvimento narrativo e a pressa de exposição de idéias, mas continua sendo um troço lindo.
ps: e a sequencia de Judex com a cabeça de pássaro é no mínimo destruidora.

Serras da Desordem (Andrea Tonacci, 2006)
pretendo escrever sobre nos próximos dias

Midnight in Paris (Woody Allen, 2011)
ao que tudo indica, Allen não só deixou de lado a preguiça de seu último filme, como também a transformou em ‘matéria-prima’ para criação – este Meia-Noite em Paris é divertido, engraçado e bastante inventivo. Mas é meio obvio que Allen não é mais o mesmo de outros tempos.
ps: destaque ENORME para Adrien Brody como Salvador Dalí.