sexta-feira, 22 de julho de 2011

guerras


A ideia de afetos e marcas deixadas pela guerra satisfaz muitos personagens do cinema moderno, sejam estas marcas provenientes da guerra da coréia, do vietnã, de chinatown ou mesmo do personagem em si. vi dois filmes nesses dias que aparentemente são muito distintos um do outro, mas que na real são tão próximos quanto um soldado e sua arma: Year of the Dragon, do Cimino, e Gran Torino, do cão que ladra Eastwood. teoricamente, são de fato muito diferentes; enquanto o primeiro apresenta Stanley White (Mickey Rourke, incrível), um policial tentando controlar o caos das tríades (gangues chinesas) de chinatown, o outro discorre sobre Walt Kowalski (interpretado pelo próprio eastwood), um velho racista, veterano da guerra da coréia, que vive em um bairro de Highland Park tomado por chineses (mais especificamente por povos hmong, vindos das regiões montanhosas da China) que abandonaram seu país para tentar a vida na américa, mas ok: um filme policial e um drama eastwoodiano, cujas tramas circulam em torno de chineses? certo e errado

trama - fig. Intriga, enredo: a trama de uma tragédia.
em termos figurados, tem-se um círculo, no qual imagina-se que a história/base (trama) seja o centro, no qual os personagens circulam por volta dela; mas no caso, temos nas bordas esse argumento/enredo e no centro as ideias de afetos citadas no começo do texto. nelas, kowalski e seu orgulho arrogante e racista confrontando feridas do passado, da guerra da coréia, e stanley tentando racionalizar sua situação com os chineses, depois de lutar no vietnã. situação por sua vez encarada por ambos os lados, na qual
1. os dois são polacos, e enxergam os chineses com olhares de outra época, em visões racistas e arrogantes (kowalski) ou odiosas e desconfiadas (white).
2. kowalski, ao contrário de white, porém, tenta se reconciliar com o presente e consigo mesmo - e nisso vai todo o complexo de aceitar os chineses e livrar-se desse manto preconceituoso -, mas por ambas as partes há uma tentativa de idealizar que as guerras acabaram. é comum nos dois filmes vermos os dois citando a guerra como algo atual e rotineiro. existem, realmente, duas guerras acontecendo enquanto os filmes se desenvolvem: por parte de kowalski, uma guerra interna, que questiona sua posição perante o mundo que o cerca (ou circula) e sua convivência com os chineses, e por parte de white, a guerra física em chinatown, os conflitos entre as gangues chinesas e a polícia.

ao contrário de kowalski, white não muda de opinião sobre os chinas - continua achando-os seres cretinos, que odeia e suspeita acima de todos os outros. porém, essa sua concepção é de certa forma abafada a partir do momento que se apaixona pela repórter Tracy Tzu, uma chinesa que cobre os eventos violentos de chinatown. já em Gran Torino, o cinismo e a arrogância de kowalski se quebram, invalidando a teoria do preconceito de einstein, e dão lugar a uma visão mais ampla da coisa toda, enterrando então o antigo incômodo que seu personagem sofria por ter matado homens na coréia. ele já não vê mais os hmong como inimigos ou como seres inferiores, mas como vizinhos normais e alguns mesmo como amigos. o kowalski do começo do filme não faria o que fez no final se não passasse por esse processo de reconciliação.


o orgulho de ambas personagens também é um ponto a se considerar. é rourke em seus plenos 30 anos interpretando um policial que busca acima de tudo fazer seu trabalho da maneira mais determinada possível, e eastwood naquela figura veterana e altiva que preza pela sua reputação. White lembra, de algum modo, o capitão nascimento, nesse sentido de ignorar e condenar subornos ("I can't be bought") e querer pegar os infratores acima de qualquer custo, ainda que a figura do polaco seja mais distorcida e preconceituosa - estamos falando de um narcisista mentiroso, que vê na feição dos moradores de chinatown uma resposta ao seu ódio e impudência consequentes do vietnã. no geral, como forma de passar a limpo tudo que foi dito, temos dois personagens que guardam resquícios das guerras, e que tomam destinos diferentes apesar das semelhanças. e é aí que reside, então, a diferença principal dos dois filmes.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

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Providence (Alan Resnais, 1977)
Um dos grandes filmes do cinema. Ponto.

Bonjour Tristesse (Otto Preminger, 1958)
A apaixonante Jean Seberg protagoniza este que é um dos mais famosos melodramas de Otto Preminger. Carrega consigo uma atmosfera de segredos, irreverência (em grande parte devido à Seberg e sua personalidade angélica) e densidade – densa no sentido psicológico da coisa toda, porque esteticamente é tomado de cores fortes e bonitas. Destaque para a idéia da fotografia em P&B para ilustrar a falta de dinâmica (emocional, amorosa, ideológica) de Seberg.

Marathon Man (John Schlesinger, 1978)
“Is it Safe?”. Uma belíssima construção da personagem de Dustin Hoffman e alguns planos inteligentes e bonitos. Mas a trama não se sustenta, principalmente pelo fato de atropelarem alguns fatos e guardar aquele velho ‘design hollywoodiano’ de ação confusa e babaca. Mas conspirações são legais.

L’enfant (Dardenne’s, 2005)
Cinema físico, presente na veia. Uma idéia na cabeça e uma câmera na mão? Não. Inclua aí o ideal humanístico da coisa toda.

Bullets Over Broadway (Woody Allen, 1994)
A reconstituição de Allen dos tempos áureos do teatro é visualmente incrível, seus personagens são carismáticos, seu diálogo com sua obra se faz presente novamente; e engata como um dos grandes filmes do homem, até a meia-hora final e a redenção de Allen, que parece rotular um ‘foda-se’ no que se segue a partir da estréia da peça de Cusack.